Educar o diabético

Ricardo Oliveira
Nutricionista

Em 1925 o Prof. Pulido Valente escreveu que «o papel do médico na diabetes, mais do que tratar o doente, é ensina-lo a tratar-se»
No tratamento da Diabetes o doente deve escolher os alimentos adequados ao seu estado de saúde e saber planear um dia alimentar de acordo com os afazeres do dia de forma a contrabalançar os níveis de “açúcar” que injustamente a doença teima em não corrigir “automaticamente”. Com a mesma importância que o diabético deve conhecer os alimentos deverá também saber adequar o tipo de exercício, duração e intensidade do esforço, assim como o número de vezes que o deve praticar por semana.
A monitorização do nível de glicose (açúcar) no sangue (glicemia) é imprescindível para o diabético ajustar a sua prática alimentar e física de acordo com os parâmetros negociados com o médico. Este ganho de autonomia do diabético no tratamento depende da capacidade da equipa de saúde em estruturar o ensinamento através de um processo educativo que gradualmente centra a sua atenção no indivíduo e nas suas competências para que este se sinta suficientemente confiante para gerir o tratamento. Este processo centrado no indivíduo faz com que seja o próprio a procurar respostas e tomar decisões responsáveis perante os problemas que lhe surgirão.
Idealmente, a equipa de saúde deveria ser capaz de dialogar e negociar as correcções a se fazer no plano alimentar, ao nível do exercício físico e inclusive da medicação à medida que as práticas diárias e o estilo de vida do diabético se tornam cada vez mais compensadoras. A informação sobre a doença permite ao diabético o reconhecimento dos sintomas relacionados com a Diabetes e o seu interesse em tratá-los é o reflexo do bom ou mau processo educativo.
O diabético é um doente com o risco acrescido de outros problemas de saúde, o que obriga a uma vigilância apertada no que diz respeito à prevenção de hipertensão, a dislipidemia (valores anormais de gordura no sangue, nomeadamente colesterol e triglicéridos), a doença coronária, a depressão, o reumatismo articular. Todos estes cuidados serão retribuídos a médio e longo prazo e pelo simples facto deste retorno não ser imediato a adesão dos doentes ao tratamento é frequentemente baixa, especialmente no que diz respeito ao exercício físico com uma média de apenas 19 a 30% dos indivíduos a praticar actividade física. No que diz respeito à adequação do plano alimentar às necessidades, os estudos apontam que 65% dos indivíduos cumprem com o programa alimentar instituído. A leitura destes números deverá ser feita com alguma ponderação uma vez que 30% das respostas poderão ser falsas pela tentativa de responder o que se queria ouvir e não o que se realmente se faz.
Finalizava este artigo com as palavras do médico Dr. José Manuel Boavida relativamente ao tratamento da Diabetes «Mais de 95% dos cuidados de saúde são prestados pelo doente a si próprio» e o médico «deve procurar saber as dificuldades que o doente tem para seguir o tratamento e analisar com ele as suas causas; elaborar conjuntamente estratégias para modificar dificuldades; estabelecer com o doente quando e como se avaliam essas estratégias».

Sem comentários:

Enviar um comentário